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Este microbook é uma resenha crítica da obra:
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN:
Editora: Editora Aleph
Neste microbook, você vai aprender sobre os efeitos imaginados pelo nosso autor em relação ao fenômeno da alienação em sociedades pós-industriais. Não perca! Ouça agora em 12 minutos.
O personagem principal é o jovem Alex e seu bando de “druguis” (que, no chamado “vocabulário Nadsat”, criado pelo Burgess para esta obra, significa “amigos”) estão à margem da sociedade inglesa de seu tempo.
Assim, eles dialogam entre si a partir de um linguajar diferente – o tal “Nadsat” – um resquício da formação do autor como linguista fortemente influenciado pelas gírias de origem russa.
Além de pensar e se comunicar nesse vocabulário diferente, Alex também narra todo o enredo da obra em primeira pessoa. Isso, embora seja excelente para a ambientação da história, faz com que a leitura seja um pouco mais truncada e, por vezes, inviável sem recorrermos ao glossário disponibilizado ao fim do livro.
Não bastassem todos os neologismos, “Laranja Mecânica” conta com uma quantidade enorme de gírias, como “tipo assim”, com as quais os leitores brasileiros estão mais acostumados. Esse fenômeno gera a sensação, bastante realista, de que estamos a “escutar” um adolescente ao longo de quase 200 páginas.
Para contrabalancear todo o horror e o caos provocado pelo seu bando, o próprio Alex demonstra um alto nível cultural e um refinamento elevado para qualquer adolescente de apenas 15 anos.
Aficionado por música clássica, principalmente Beethoven, o rapaz manipula com facilidade seus próprios pais, agindo como filho cuidadoso e educado, que não se sente à vontade para ir à escola. Concomitantemente, exerce um controle absoluto sobre os demais jovens de seu grupo, fazendo com que sua palavra tenha peso de lei.
Alex, talvez, seria capaz de manipular, também, os leitores, caso todas as cenas de estupros, agressões e roubos não fossem descritas tão detalhadamente. O jovem assume o papel de narrador com tamanha intimidade que compartilha sem receios quaisquer pensamentos.
Isso significa não poupar os leitores de detalhes, mesmo que algo fundamental sempre falte: um bom motivo para os seus atos. Com efeito, não há razões, negligência ou raiva que, ao menos, comece a justificar os comportamentos ultraviolentos e “horrorshow” de Alex.
Toda a violência perpetrada é gratuita, não havendo outras emoções, além da sensação de superioridade, sede de poder, ou vontade de experimentar a adrenalina e o efeito das drogas que, como bom menino, dissolve em leite no seu bar predileto.
Enquanto Alex estupra pré-adolescentes previamente drogadas, espanca um mendigo e entra em lutas armadas com gangues rivais, ele se sente onipotente e invencível.
Esse sentimento de invencibilidade é, justamente, o que gera a decadência do reinado de violência de Alex. Ao ser abandonado pelo próprio grupo em uma de suas aventuras que não ocorreu exatamente como inicialmente planejado, o garoto descobre que as implicações de seus atos podem ir muito além de uma rápida internação no reformatório ou uma bronca paterna.
Sem embargo, aos 15 anos de idade, Alex é preso. Na prisão, entra em contato com a Técnica Ludovico, uma técnica tida como inovadora e que todos já conhecem bem pela adaptação para o cinema realizada pelo cineasta Stanley Kubrick.
Em uma sociedade na qual a ultraviolência é algo perfeitamente normal e, até certo ponto, esperada dos adolescentes, a submissão de Alex a um condicionamento capaz de torná-lo fisicamente incapaz de se aproximar de qualquer tipo de agressividade é um resultado coerente.
Consequentemente, o jovem sente o mesmo efeito ao ouvir a sua música favorita. Dito de outra forma, Alex se vê, finalmente, livre. Sem embargo, com a condição de se tornar um jovem “normal”, em uma sociedade onde nenhum jovem normal sobreviveria.
Somente com o protagonista enfraquecido e fragilizado desse modo é que nos é permitido descobrir que a violência não é um comportamento esperado somente dos jovens “druguis”. Alex é vitimizado por policiais abusivos e velhinhos raivosos. O único indivíduo que lhe demonstra alguma compaixão é uma antiga vítima de suas atrocidades que, no entanto, não o reconhece.
O escritor Alexander, que trabalhava em um manuscrito chamado “Laranja mecânica” no momento em que sua casa fora invadida pelos baderneiros, vê em Alex a oportunidade de, efetivamente, criticar o atual sistema político, pelo fato de forçar adolescentes saudáveis a participarem de experimentos ainda não completamente testados, condicionando-os como animais.
Paulatinamente, descobrimos que os revoltados descritos por Alexander são tão vingativos e cruéis quanto Alex, mesmo que neles ainda exista uma nova espécie de violência capaz de transcender todas as críticas sobre liberdade pessoal e intervenção estatal.
Como era de se esperar, esta obra sofre intensa repressão e censura em diversos países desde a sua publicação original, tanto pelas ideias desenvolvidas quanto pela brutalidade explícita presente em sua narrativa.
O último capítulo, por exemplo, foi omitido, por muitos anos, das edições estadunidenses, em uma tentativa (de resto, pouco eficaz) de oferecer aos leitores um senso falso de justiça, algo evidenciado em cada ato violento dos personagens.
O cineasta Stanley Kubrick fundamentou-se nesse incompleto final para a produção de seu clássico longa-metragem, comprometendo as ideias presentes na história original, justificando, portanto, a insatisfação demonstrada por Burgess com a célebre adaptação para o cinema.
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Anthony Burgess foi um compositor e escritor de origem britânica, cujas ob... (Leia mais)
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